Uns breves comentários sobre os resultados já quase definitivos da eleição presidencial .
Há um vencedor que era mais do que certo - o dr. Cavaco Silva .
Há um resistente que cumpriu a missão de que fora incumbido ( fixar o eleitorado do
PCP ) - o sr. Francisco Lopes .
Há dois derrotados em toda a linha - o sr. Poeta Alegre e o dr. Defensor da Chicana
Política .
E há ainda dois outros vencedores, se bem que apenas parcialmente - o dr. Fernando
Nobre que trouxe à campanha um " perfume " algo diferente ( para além disso parabéns
ao dr. Mário Soares pela vingança obtida ... ) e o sr. José Manuel Coelho que terá neste
momento já a certeza ( o resultado obtido na Madeira foi impressionante e mesmo os
votos em todo o território nacional terão superado as perspectivas mais optimistas )
de que lhe irão surgir variadíssimas novas ofertas de " barrigas de aluguer " ...
As contradições e as interpretações divergentes permanecem .
José Sócrates continua a propagandear que Portugal está bem e recomenda-se .
Os compradores da dívida portuguesa e as agências de rating acham que não .
José Sócrates esgrime números ( mas apenas os que lhe interessam ) .
Os compradores da dívida portuguesa manifestam reservas e só adquirem com juros
altíssimos ( apesar de uma ligeira baixa - 6,806% para 6,716% - suficiente para os
" artistas " das nossas debilitadas finanças embandeirarem em arco ) por entenderem
que o risco é muito elevado ( o spread em relação à Alemanha é da ordem dos 400 pontos ) .
As agências de rating, perante a falta de resultados reais e palpáveis de uma recuperação
de Portugal, continuam a baixar a cotação da República .
O Primeiro-Ministro fala de alguns aspectos positivos ( um aumento da receita superior ao
estimado - como se não fosse previsível, face ao ataque flibusteiro ao bolso das classes
baixa e média, com esta última quase extinta ; o saldo da Segurança Social, resultante
dos cortes efectuados nas regalias dos beneficiários ) e de um outro que também considera
positivo, mesmo não o tendo sido ( o crescimento da despesa APENAS em 1,7%, como se
não fosse imperioso o controlo efectivo da " gordura " do Estado - redução do número de
deputados para 181, não sendo sequer necessária para tal uma revisão do texto constitucional;
diminuição drástica do número de Câmaras Municipais e de Juntas de Freguesia; extinção dos
Governos Civis ; fortes cortes na composição dos Gabinetes de Apoio a Ministros e Secretários
de Estado ; revogação dos regimes especiais de aposentação e das mordomias dos políticos;
etc., etc., etc. ) .
Mas, CLARO, há alguns dados que, mesmo na qualidade de provisórios, o Primeiro-Ministro
ainda não teve possibilidade de apresentar !...
São os dados que, provavelmente, revelarão um comportamento negativo e um impacto no
mesmo sentido nas Contas do Estado ( os Serviços e Fundos Autónomos, com, entre outros,
a esbanjadora Saúde, e as Administrações Regional e Local, com as Câmaras despesistas ) .
José Sócrates comporta-se como um CLONE do Ministro da Propaganda do Iraque ao tempo
da invasão do país pelos EUA .
E Portugal e os portugueses sofrem com a sua falta de credibilidade .
Mário Soares foi uma figura incontornável da política portuguesa, com as virtudes e os
defeitos de qualquer outro ser humano .
Foi bem definido por José António Saraiva : " É um homem que, apesar das aparências,
me parece pouco disponível para os outros . Ama o povo teoricamente . "
Foi criticado, por forma intensa mas bem fundamentada, por Clara Ferreira Alves, no Expresso,
num texto intitulado " Este é o maior fracasso da democracia portuguesa " .
Tem uma vaidade insuperável e um egocentrismo brutal .
É um homem de extremos - não tem parceiros : ou tem súbditos ou tem inimigos .
Aliás, a candidatura presidencial dos Nobres ( Fernando Nobre+Nobre Soares ) é o exemplo
acabado de retaliação pelo rotundo fracasso que lhe foi provocado pelo Poeta Alegre .
E outros exemplos são fáceis de encontrar : basta pensar na impossibilidade sentida por
Rui Mateus de reeditar o seu livro " Contos Proibidos - Memórias de um PS Desconhecido ",
apesar de esgotadíssimo .
( Algo semelhante ou até mesmo pior, embora respeitante a outro figurante, se passa no
presente com António Balbino Caldeira, com o seu " O Dossiê Sócrates - A Investigação do
Percurso Académico de José Sócrates, com Factos Novos ", cuja publicação em Portugal foi
recusada por todas as editoras contactadas, tendo acabado por vir à estampa nos EUA e
sido difundido em Portugal através da Internet .
É que a censura não foi somente uma realidade nos velhos tempos do " lápis azul " . Hoje
ela aí está, pujante e viva, só que bem mais profissional e requintada . )
Regressemos, porém, ao tema da contradição .
Os políticos - e isso passa-se em todos os quadrantes - possuem o vício da contradição,
dizendo hoje o que tinham negado ontem .
Esse vício resulta de terem no ADN, impresso sem manipulação possível, o gene do
esquecimento .
Ora do esquecimento resulta inelutavelmente a contradição .
( Recordam-se daquela entrevista feita a José Sócrates em 2000 ?
Perguntaram-lhe :
" Engenheiro José Sócrates, vamos vê-lo um dia Primeiro Ministro ? "
Resposta de José Sócrates :
" Não ! Primeiro, porque não tenho o talento e as qualidades que um Primeiro Ministro
deve ter . Segundo, porque ser Primeiro Ministro é ter uma vida na dependência mais
absoluta de tudo, sem ter tempo para mais nada . É uma vida horrível e que eu não
desejo . Ministro é o meu limite . Aceitei pagar esse preço . Mas nada mais do que isso . "
Infelizmente - e para mal dos nossos pecados - eis que nos encontramos perante mais
um caso [ e este dramático ] de contradição . )
Fértil em contradições é Mário Soares, que um dia afirmou ser Sócrates o pior do Guterrismo,
enquanto que hoje em dia o louva e defende .
Mas o poema que segue descreve muitas outras contradições de Mário Soares :
BASTA !
Vamos falar do Marinho
O bochechudo velhinho
Que não para de palrar .
Vamos então começar .
Falava em lugar aos novos
Para convencer os povos
De que falava verdade
Não tendo ele contudo idade
Só para os outros seria
A si não se aplicaria .
Pisca os olhos ao PC
Pensando que ninguém vê
Quanto mudou no assunto
Puxando pelo bestunto
Por certo recordaria
Que com Zenha em luta dura
A democracia pura
Defendia noite e dia .
Depois de insultar o Freitas
- O qual, porém, já esqueceu
E à esquerda se converteu -
Todos possuem maleitas
E fere a torto e a direito
Com grande falta de jeito .
Povo, sofre o teu calvário
Pois bem pior que o tumor
( Não sendo o Portas, porém,
Ser que satisfaça alguèm )
É a falta de pudor
Que revela o velho Mário .
A Delegação de Setúbal da Casa os Professores promoveu um Concurso de Poesia cujo mote
era um verso de Bocage ( Já se afastou de nós o Inverno agreste ) .
Os poemas apresentados pelos concorrentes ao concurso não podiam revestir a forma de soneto .
O júri ( constituido por duas professoras da língua pátria e por um escritor ) atribuiu três prémios,
tendo o primeiro sido concedido, em 15 de Dezembro transacto, ao meu poema que seguidamente
reproduzo :
RENASCER
Já se afastou de nós o Inverno agreste
Fautor de solidão, melancolia
E já não há tristeza que nos reste
Ao ver que lindo surge o novo dia .
A Primavera chega, de mansinho
São flores que desabrocham sem cessar
E já nem custa andar nosso caminho
Ouvindo aquele riacho a sussurrar .
Chilreiam passarinhos saltitantes
Jogam à cabracega criancinhas
Nada vai ser agora como dantes
Longe que ficam tristes mágoas minhas .