A Grande Reportagem da SIC sobre ex-ministros foi um trabalho notável de Pedro Coelho, tornando
mais claro aquilo que todos nós já sentiamos ser a realidade : a de que ex-ministros ( em especial os
da área do Bloco Central ) se " amanham " magnificamente após o termo das funções governativas ,
aproveitando as ligações construídas durante esse tempo, mesmo quando as suas qualificações e
capacidades não são nada de extraordinário .
Por seu turno o inefável Bispo das Forças Armadas, dando mais uma vez mostras do seu esquerdismo
militante, desembainhou armas contra o actual Poder, apodando-o de " diabinhos negros " em contraste
com os " anjos " do Governo do Senhor Pinto de Sousa .
Numa magnífica Carta Aberta dirigida a tão nefasta figura Luis Botelho dirigiu ao Bispo críticas justas e
certeiras . Assinalo agora dessa Carta apenas as seguintes passagens :
" O Senhor, pela maneira como há anos se posiciona, das duas uma : ou só tem olhos e ouvidos para o
que lhe vem da direita - e é um mau vigilante - ou então vê e ouve à direita e à esquerda ... mas cala-se
selectivamente .
Não podemos aceitar que alguém prostitua a dignidade episcopal, a missão profética que lhe foi confiada ...
colocando-a não ao serviço do Evangelho ou da própria consciência, como pretende fazer querer, mas de
agendas e solidariedades políticas de que um Bispo se deve manter livre .
Se para o Senhor Bispo o anterior Governo era de anjos, comparados com os " diabinhos negros " do actual,
o Senhor D. Januário só pode estar fora da comunhão com o Papa Bento XVI para quem " os seres humanos
mais pobres ( ou frágeis ) são as crianças ainda não nascidas ", ou seja os tais seres cuja total exploração,
desconsideração e morte violentíssima, perante o seu silêncio e, por vezes, até com a ajuda da sua palavra
cúmplice, o PS de Sócrates promoveu . "
Verdades como punhos !
Contudo, nem em todos os aspectos as palavras do inefável Bispo merecem crítica .
Com efeito, são aproveitáveis as qualificações " anjos " e " diabinhos negros ", embora com um bem diferente
enquadramento temporal - os ex-ministros do tempo do regime autoritário foram realmente " anjos " quando
comparados com os " diabinhos negros " ( os ex-ministros focados na magnífica investigação realizada pelo
jornalista Pedro Coelho ) .
O povo, na sua infinita sabedoria, há muito tempo que diz :
Depois de mim virá quem de mim bom fará !!!
Há muito que o bastonário da Ordem dos Advogados nos habituou a intervenções que não primam
pela elegância e que, em virtude dos termos utilizados, por vezes levam a que perca a razão ( rara )
que tinha nos assuntos focados .
É, claramente, muito mais um jornalista panfletário do que o bastonário de uma Ordem que era
prestigiada há muitos anos atrás, até ( ou talvez principalmente ) em épocas nas quais defender certas
posições, com firmeza mas sem perder a "classe", era complicado .
Só que no momento actual a sua liderança ( no mau sentido ) encontra-se ameaçada pelo inefável bispo
das Forças Armadas ( que, aliás, se vai eternizando no cargo, apesar da sua já provecta idade ) .
Se calhar, dada a idade avançada, reduziu de modo significativo a sua actividade pastoral, só que, em
contraponto, reforçou ( ganhando-lhe o gosto ) o seu papel como comentador político, dando um
espectáculo lamentável com as ideias que expende e as figuras de retórica que usa .
Se fossem a votos creio que o resultado seria imprevisível, pois não sei se ganharia, neste campeonato
do mais baixo nível, o jornalista panfletário ou o comentador carroceiro .
Realmente, venha o diabo e escolha .
Foi hoje anunciado que os utentes do SNS apresentaram quase 50.000 reclamações em 2011, mais
8% do que no ano anterior, tendo os médicos sido o grupo profissional mais visado nas reclamações.
com 46,49% dos casos .
Por seu turno J. Vaz Pereira escreveu no Expresso :
" Fui e continuo a ser um crítico feroz da classe médica em Portugal .
( ... ) a imagem que todos temos dos médicos não rima com profissionalismo e competência, mas com
prepotência, frieza e sobranceria do "doutor".
Em todas as profissões há ovelhas negras, mas no caso dos médicos o rebanho é quase todo preto com
algumas pintas brancas aqui e acolá .
O Serviço Nacional de Saúde ( SNS ) deve ser preservado não para continuar ao serviço dos médicos, mas
para servir as populações .
Infelizmente a classe médica continua a olhar para si como se só houvesse um interesse, o seu .
Assim nunca farão parte da solução . "
Face ao que deixo descrito a minha reflexão fundamental a propósito dos dois dias de greve dos médicos
( no Serviço Público, mas já não nos estabelecimentos privados e nos consultórios particulares ... ) consiste
em fazer realçar uma inegável vantagem dessa greve resultante : o ter provocado uma redução assinalável
nas reclamações contra os clínicos ...
A realidade diária vai-me reforçando a razão de ser dos considerandos que fiz constar em 5 do
corrente no meu blog sobre ser Portugal um país de "doutores" .
É que ainda ontem ouvi, espantado, Constança da Cunha e Sá perorando e manifestando estranheza
pelo facto de um gestor habilitado apenas com uma cadeira de um curso superior ter estado à frente
de empresas .
No caso concreto tratava-se de Miguel Relvas, mas podia estar em causa outro qualquer gestor .
Ao ouvir esse comentário não pude deixar de pensar se António Champalimaud ou D. Antónia Ferreira
( e muitos outros )não deveriam mexer-se na campa e pedir desculpa a C.C.S. pela sua ousadia
empresarial .
Como a insana sanha persecutória de uma comentadora pode obliterar tão intensamente o raciocínio ...
A recente polémica à volta da licenciatura supersónica de Miguel Relvas tem sido tratada em muitos
tons, mas poucos deles abordando a questão essencial que merece ser debatida .
Avulta desde logo a confirmação de que Portugal - mais um aspecto comprovativo do seu atraso - é
um país de "doutores", verdadeiros ou pretensos, ao contrário de outras nações onde o título académico
não é chamado como regra à colação . E, por assim ser, muitos que o não são ficam felizes quando
desse modo são chamados ( tipo Manuel Alegre ), enquanto que outros não descansam enquanto não
conseguem o "canudo", mesmo que obtido em estabelecimento de ensino de vão de escada e com um
corpo docente de terceira categoria .
Também o Processo de Bolonha veio nivelar por baixo, desgraduando as licenciaturas e tornando os
mestrados nas "Novas Oportunidades do Ensino Superior"...
Não é assim estranhável que, neste contexto, já existam empresas que, em sede de recrutamentos,
estabeleçam como condição de candidatura a detenção de uma licenciatura com cinco anos de duração .
No caso Miguel Relvas, admitindo que possa não ter existido qualquer ilegalidade, há, sem sombra de
dúvida, o facilitismo que resulta da nova regulamentação a que atrás já fiz referência .
Vozes de outros quadrantes - em especial aquelas que lobrigaram a possibilidade de, com este caso,
"branquear" a "licenciatura" do Senhor Pinto de Sousa - tentam à outrance equiparar as situações .
Mas não conseguem alinhar razões para tal, uma vez que :
a) não consta que no caso de Miguel Relvas tenha havido provas ( individuais ), decisões ao domingo,
envio de trabalhos finais para nota por faxe, cartões de visita com timbre do cargo desempenhado no
Des(Governo), etc., etc.;
b) enquanto o Senhor Pinto de Sousa colocou com frequência os seus sequazes a tentar silenciar os
órgãos de informação que iam investigando a sua "licenciatura", Miguel Relvas - talvez em resultado
de ter aprendido com os seus erros na recente saga com o jornal Público - mostrou abertura para o
esclarecimento da situação, tendo-se inclusivamente disponibilizado para entrevistas sobre o tema .
Mas será que o caso é mesmo uma tempestade num copo de água ou, como diz o Primeiro-Ministro,
um não facto ?
Não, não é !
Se a situação talvez não seja grave em si mesma, é muitíssimo grave noutro plano - desqualifica
estabelecimentos de ensino que, de um modo não transparente e por razões não conhecidas de
forma objectiva, atribuem títulos académicos estilo "Novas Oportunidades", "despromovendo" o
Processo de Bolonha à 2ª Divisão .
Ou, dito de outra forma, atribuindo a licenciaturas com plano de estudos uma tramitação mais
própria de reconhecimentos honoris causa ...
Creio firmemente que um enquadramento deste tipo não revestiria viabilidade, por exemplo, na
Universidade Católica, na Universidade Nova de Lisboa ou na Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra .
Se não soubermos, como imperioso se torna, separar o trigo do joio, será todo o ensino universitário
em Portugal a ficar fragilizado .
E essa é a questão essencial que merece - e precisa de - ser debatida .