João Semedo, o provável futuro "meio presidente" ou "meio coordenador" do Bloco de Esquerda,
acenou recentemente ao PS e ao PCP tentando sensibilizar esses partidos para a constituição de
uma frente comum de esquerda, capaz de combater aquele que entende ser um perigoso Governo
de Direita que se encontra a destruir o país .
Mas, ao fazer esse repto, condenou-o de imediato ao insucesso ao estabelecer como condição sine
qua non para a constituição dessa frente comum a denúncia do acordo celebrado com a Troika .
Com isso inviabilizou o já de si altamente improvável assentimento do PS, partido que negociou,
quando ainda era Governo, o Programa de Resgate a Portugal .
Daí que, pese embora aos que sonham com a quadratura do círculo, somando as percentagens de
cada um desses três partidos nas mais recentes sondagens de molde a construir uma fantasiosa maioria
de esquerda, tenha ficado mais uma vez claro que o Ps não alinha nesses pacotes revolucionários .
E, nesse caso, o CDS ( o dr. Paulo Portas, como bem sabemos já há muitos anos, é capaz de tudo )
estará por certo disponível para formar um Governo de Coligação, seja com o PSD ou com o PS .
Ou pode, se a situação de Portugal continuar a revelar-se difícil e complexa, surgir um Governo do
Bloco Central ( PSD/PS ou PS/PSD ), hipótese na qual o "emagrecimento" do Estado será mais do
que nunca uma miragem, uma vez que a esmagadora maioria dos que se encontram instalados à
"manjedoira" emana desses partidos .
Sem uma enorme volta Portugal realmente não tem futuro !
O Projecto Gaspar de cortes brutais nos rendimentos dos portugueses das classes média ( se é que
esta ainda existe ... ) e média-baixa seria preocupante se não constituísse um tremendo embuste .
O Governo avançou com este pacote chocante ( Fase A ) ... e ficou à espera de ver a reacção que
tal pacote motivaria ( embora estivesse fartíssimo de saber qual ela seria ) .
Perante a Fase B ( crítica acerba ) começou a preparar com lentidão, para que pareça difícil, a Fase
C - reformulação do projecto inicial, deixando no ar a impressão de ser um Governo muitíssimo
preocupado com a situação social dos portugueses .
A Fase C consistirá assim numa redução, em maior ou menor escala, dos sacrifícios pedidos aos
portugueses das classes média e média-baixa, compensada, em ínfima percentagem, com "pequenas
bicadas" nos rendimentos dos mais abonados e com uma "lipoaspiração mínima" nas gorduras do
Estado .
Com esta ligeira redução nos cortes brutais constantes do Plano A o Governo espera que a habitual
distracção dos portugueses funcione como anestésico e que estes pensem e digam :
O nosso futuro próximo não é brilhante, mas do mal o menos - o Governo foi sensível às nossas
dificuldades .
E, contando o Governo que o povo venha pacificamente a reagir desse modo, esperará também que os
portugueses continuem esquecidos das mordomias dos políticos, do número exagerado de deputados,
da revisão por fazer no universo autárquico ( Mouzinho da Silveira nunca fez tanta falta ! ), do
sorvedouro de certas empresas públicas, do uso reiterado de viaturas do Estado para fins particulares,
da promiscuidade entre Estado, instituições financeiras, empresas construtoras e gabinetes de
advogados, etc, etc .
E se assim for tudo continuará tranquilamente no melhor dos mundos !