Embora ainda faltem dois meses para a data das eleições europeias encontrava-me a viver
um grande dilema .
É verdade que o Secretário-Geral do PS declarou que o partido está a apresentar medidas
concretas em várias áreas e por isso não quer " apenas merecer o voto dos portugueses
pelo protesto e descontentamento " mas também pelas propostas .
Só que, por mais que se procure, não se conseguem lobrigar quaisquer propostas concretas
- apesar de Óscar Gaspar já ter, por certo, levado um forte puxão de orelhas quando em
momento recente destapou algumas carecas ...
E como não há propostas, não me é possível ponderar votar no PS .
Votar na coligação PSD-CDS também se revelava complicado - como esquecer a influência do
ex-Paulinho das feiras e actual "irrevogável" Paulinho dos vistos gold ?
A abstenção encontrava-se assim a ganhar peso nas minhas possíveis opções .
Eis senão quando o Secretário-Geral do PS disse ontem que quem não votar nas eleições
europeias de Maio será " cúmplice das políticas do Governo " .
Sucede, portanto, que não posso deixar de votar .
E como continua a não haver quaisquer propostas do PS lá terei que ir votar ( para não ser
cúmplice, pela minha ausência, das políticas do Governo ) - votar na coligação PSD-CDS,
procurando "esquecer-me" da figura do "irrevogável" .
Não foi isso que fez o PCP ao votar em Mário Soares, mesmo que fosse necessário tapar-lhe
a fotografia para não o ver ?
Obrigado António José Seguro - resolveu-me um grande dilema !
No discurso de aceitação do prémio de Personalidade do Ano de 2013 da Associação da Imprensa
Estrangeira em Portugal Mário Soares lembrou a sua relação com os jornalistas, de quem " sempre
gostou muito " .
É mais uma das inúmeras manifestações de falta de pudor de Mário Soares, capaz de ver, em
momentos diferentes e quando se encontre em posições também diferentes, a mesma realidade
de forma em absoluto antagónica .
Só dois rápidos exemplos :
1º - as maiorias absolutas eram perigosíssimas quando concedidas a Cavaco Silva mas já cheias
de virtualidades se atribuídas ao PS ;
2º - Sócrates ( o sr. Pinto de Sousa ) chegou a ser considerado por Mário Soares como " o pior do
guterrismo "; só que agora, por também render vassalagem a Mário Soares, já se encontra "recuperado" .
Ora quando Mário Soares, sendo 1º Ministro, assinou em Agosto de 1983 um memorando de
entendimento com o FMI - altura em que via como naturais e indispensáveis medidas de brutal
austeridade, austeridade que agora critica ao actual Governo - não tinha tanta consideração pelos
jornalistas como agora apregoa .
Basta recordar que nessa altura ( veja-se o Der Spiegel de 21 de Abril de 1984 ) para ele " a imprensa
portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável .
Ela dá uma imagem completamente falsa " .
Mário Soares tem, realmente, uma tremenda falta de pudor .
Passei este sábado no Largo de Camões onde decorria mais uma manifestação da imobilista
CGTP-IN .
Lá se ouviam, como de costume, várias frases feitas, entre elas "A luta continua" .
A um canto da praça, com aspecto de se encontrar alcoolizado, um indivíduo de meia idade,
ao ouvir a referida frase, retorquia sem cessar : "E o resto também continua - tudo na mesma".
Era a sabedoria do álcool !
Realmente os problemas em Portugal vão muito para além da continuação da luta .
Para os superar o importante será :
* ter a noção de que, sem prejuízo embora de a riqueza existente poder ser melhor repartida,
não é possível viver como se a riqueza fosse maior do que é ;
* entender que só é possível melhorar o nível geral dos portugueses se fizermos crescer a riqueza
produzida aumentando a baixa produtividade que se verifica ;
* reduzir as fricções existentes entre os partidos e ampliar a intervenção na área política a cidadãos
independentes, de molde a tornar possível que - finalmente ! - o interesse nacional se sobreponha
aos interesses partidários .
Com essa nova visão para Portugal enriquecer-se-á o país e, em consequência, melhorar-se-á o
nível de vida de todos os portugueses .
É por aí que a luta deve começar .
Fui, desde o primeiro dia, um feroz opositor do novo AO, dentro embora das minhas limitadas
possibilidades .
Primeiro que tudo em virtude dos tratos de polé que uma meia dúzia de ( mal ) "iluminados"
infligiram à língua portuguesa e às suas origens . Mas também, como jurista que sou, por não
me ser possível pactuar com a ilegalidade extrema que consistiu na revogação, por meio de
duas resoluções ( RAR nº 35/2008 e RCM nº 8/2011 ), de diplomas hierarquicamente superiores
( DL nº 35228 e DL nº 32/1973 ) que tinham aprovado o anterior AO .
E foi por isso que mais uma vez acompanhei com asco a atitude dos deputados da Assembleia
da República, aprovando um texto insípido, inodoro e incolor com o qual ignoraram na matéria
as preocupações e os anseios de muitos e muitos milhares de portugueses .
Só que a realidade dos últimos dias abalou de forma séria a minha combatividade .
A previsível entrada da Guiné Equatorial na CPLP fez-me duvidar da justeza da luta na defesa
da língua portuguesa .
A CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - vai, com essa provável entrada ,
converter-se numa outra comunidade, embora possa manter a sigla : a Comunidade dos Países
de Língua Petrolífera !...
E sendo o petróleo desse país execrável que é a Guiné Equatorial tudo menos "refinado" e a
língua portuguesa ( a terceira língua desse país ditatorial, língua que nele não será falada, lida,
escrita e entendida por ninguém ) simples moeda de troca para a chegada de umas "migalhas"
ao nosso Portugal que já foi grande, como continuar a ter forças e vontade para defender a
pureza da nossa língua e terçar armas por ela ?