Os últimos dias reforçaram - e de que maneira - as minhas preocupações tendo em conta a capacidade
daqueles que se encontram no poder ou almejam aceder a ele .
António José Seguro entende que um Governo eleito de forma democrática por quatro anos em Junho
de 2011 tem que ser apeado do poder . Mas já não admite que seja posto em causa o seu lugar como
secretário-geral do PS uma vez que se encontra ainda a decorrer o tempo do seu mandato . E centra-se
na gestão administrativa e burocrática dos estatutos do partido para resistir à pressão de António Costa .
António Costa, por seu turno, entende ser já tempo de "baralhar e dar de novo" no PS, se bem que Seguro
se encontre legitimamente no desempenho do cargo de secretário-geral . Mas, se sair da presidência da
Câmara Municipal de Lisboa, não haverá razão para a realização de novas eleições, uma vez que o tempo
de duração do mandato dos autarcas não estará esgotado .
Mas há mais .
Os partidos do Governo - PSD e CDS-PP - bradam à exaustão que a legislatura deve ser levada até ao fim,
nada justificando a demissão do Governo . Mas, se porventura António Costa tiver êxito na sua tentativa
de assalto ao PS e decidir demitir-se da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, aí - mesmo não estando
esgotado o mandato dos autarcas - haverá imperiosamente que realizar novas eleições .
Que Deus nos proteja, entregues como estamos a indivíduos ( todos ! ) deste jaez .
Não, não vou falar da peça de Anton Tchekov .
Mas realmente vou falar de teatro .
É que, minha mulher e eu, fomos ver ao Teatro Nacional Dona Maria II " O Regresso a Casa ", de
Harold Pinter, com João Perry - um magnífico actor com uma péssima dicção - como protagonista .
Fomos ver ou, melhor dizendo, tentamos ir ver a referida peça .
O que aconteceu então ?
Decorridos cinco ou seis minutos após o intervalo vimo-nos forçados a abandonar a sala, em virtude
do ambiente se ter tornado IRRESPIRÁVEL .
O "encenador" da peça, Jorge Silva Melo, decidiu colocar quatro dos actores - sem que nada no
conteúdo e no desenvolvimento da peça o impusesse ( apenas sucedia que o irmão do protagonista,
motorista de táxi, tinha sido presenteado por clientes, após uma "corrida", com uma caixa de charutos )
- a fumar em simultâneo .
Manifestei por escrito à gestão do Teatro inconformação com o sucedido .
Sendo embora certo que, em curto prazo, recebi uma apresentação de desculpas por parte da direcção
do Teatro bem como um convite para assistirmos à peça "O Avarento" - que, contudo, já tínhamos visto
na sua primeira época, ainda hoje recordando, em especial, a soberba interpretação de Virgílio Castelo -
a verdade é que o mal estava feito .
Daí que me permita vir aconselhar os frequentadores do Teatro Nacional Dona Maria II a obterem com
antecedência todas as informações sobre as peças a que tencionem assistir, pois não estamos livres
de nos poderem surgir no caminho outros "Jorge Silva Melo" com encenações abstrusas
Num dos frequentes desaguisados que mantive, como advogado, com Marinho e Pinto enquanto
Bastonário da Ordem dos Advogados, escrevi-lhe uma carta em Dezembro de 2013 na qual terminava
referindo a " fase de despedida do Senhor Bastonário, em preparativos, segundo consta, para uma
vida regalada entre Bruxelas, Estrasburgo e Portugal " .
A pretensão, através da "barriga de aluguer" do MPT ( Movimento Partido da Terra ), foi apresentada
e a vida regalada ficou garantida pelo voto .
Realmente só não adivinho a "chave" do Euromilhões !
Temos assistido ao longo da última semana ao espectáculo lamentável e deprimente do secretário-
geral do Partido Socialista, qual menino birrento, a pressionar o Primeiro-Ministro a apresentar de
imediato a carta para o FMI subsequente à finalização da 12ª avaliação ao Programa de Resgate .
Pressão que nunca existiu em relação às anteriores onze avaliações ao Programa nas quais as
cartas foram difundidas nos momentos previstos, só que nessa altura não havia eleições à porta ...
A pressão é mais uma manifestação da política rasteira que - aliás em todos os quadrantes - vem
grassando no nosso pobre país , contribuindo para o avançado descrédito de todo o espectro
partidário junto da população, cada vez mais desinteressada e descrente das virtualidades da
política .
Era altura, em especial por parte do PSD e do PS como partidos principais no "arco da governação"
e eventualmente também com o CDS-PP como partido residual nessa área, que a "carta" em debate
fosse outra que não a carta ao FMI .
Que carta então ?
A Carta a Garcia ( episódio durante a guerra entre os EUA e a Espanha, no qual o Presidente dos EUA
deu uma carta a Rowan para que a entregasse ao General Garcia, chefe dos rebeldes cubanos . Rowan
pegou na carta, nem sequer perguntou onde estava o general, pos-se a caminho, atravessou um país
hostil percorrendo montes e vales e só descansou após cumprir a missão . Cumpriu-a sem fazer perguntas
e executou-a com total autonomia revelando elevada capacidade de iniciativa e espírito empreendedor .
É o que hoje em dia se espera - ou, melhor dizendo, se exige - dos políticos portugueses no momento
difícil que Portugal atravessa ), actualizando-se apenas o destinatário, com manutenção dos objectivos
que levaram ao esforço insano da entrega no caso histórico .
Garcia seria assim o Povo Português, cansado de esperar e carente de esperança, ao qual os partidos
do "arco da governação" dirigiriam a carta comprometendo-se, em conjunto, superando as querelas
partidárias e colocando, PELA PRIMEIRA VEZ, o interesse nacional acima do interesse partidário, a actuar
de forma coordenada e responsável na busca das soluções de que Portugal urgentemente necessita .
Será pedir muito ?