Há muitos que falam nisso
Falam, falam sem parar
Fazem muito reboliço
Mas tardam em avançar .
Portugal é de palavras
Pois não custam a pagar
Se o que dizem fossem cabras
Muito haviam de cobrar .
Há milhares a dar palpites
Soluções a encontrar .
Eis caminho sem limites :
Vamos todos trabalhar !
Está quase a começar o Mónaco-Benfica .
A verdade é que, como português, me sinto profundamente dividido : é que o Mónaco vai começar o jogo com tantos portugueses na equipa como o Benfica !!!...
As desculpas esfarrapadas de António Costa, na qualidade de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, quanto ao caos que se verifica na cidade quando a pluviosidade ultrapassa os valores médios, não convencem a não ser os seus mais acérrimos apoiantes e a parcela importante da comunicação social que lhe é atenta, veneradora e obrigada .
A situação está perfeitamente detectada e já há bastantes anos - o plano de drenagem de Lisboa foi aprovado pela Câmara no já longínquo ano de 2008, como em data recente recordou José Saldanha Matos, o autor do plano
Seis anos são passados e tudo continua na mesma ( ou antes, pior ) .
E assim irá muito possivelmente continuar, pois o calculista António Costa tem coisas bem mais importantes - para ele - com que se preocupar e entre essas não se contará por certo a defesa dos interesses dos lisboetas nesta matéria .
Com a apresentação da proposta de Orçamento de Estado para 2015 a postura do PS na matéria - falo apenas
do PS por se tratar do único partido com capacidade para ser alternativa de poder - não trouxe nada de inesperado .
O bota abaixo é o habitual : como o orçamento não apresenta benefícios significativos para os cidadãos eleitores,
mantendo austeridade ( se bem que aligeirada ) a crítica é a de que embora a Troika tenha formalmente partido
na realidade continua por cá ; se tivesse havido um claro alargar do cinto o PS estaria a bramar contra o
eleitoralismo do Governo, esquecendo que, até essa altura, tinha sempre pedido menos austeridade .
Mas se os actuais governantes estivessem na oposição e o PS alcandorado no Governo nada se passaria de
substancialmente diferente : apenas os protagonistas do bota abaixo seriam outros .
É por isso que Portugal não consegue, nem conseguirá, sair desta "apagada e vil tristeza" .
A Presidente do PS, Maria de Belém Roseira, declarou o seu afastamento do cargo, no sentido da
renovação a realizar no partido .
Clara renovação essa !...
As manifestações de "renovação" são inúmeras e sucessivas :
* Ferro Rodrigues como líder parlamentar ;
* Miranda Calha como vice-presidente da Assembleia da República ... ;
* as "novas figuras" do PS que surgiram ao lado de António Costa comemorando a vitória deste : António
Almeida Santos, Ferro Rodrigues, Mário Soares, Manuel Alegre ;
* os "Silvas" que voltaram a botar palavra com maior frequência ( Vieira da Silva, Silva Pereira, Santos Silva );
* a "corte socrática" ressurgida em todo o seu esplendor, sacudindo a naftalina ...
O PS, agora tão voltado para a esquerda na sua fase costista, bem podia aprender renovação com o PCP .
É que, embora eu me posicione quase nos antípodas desse partido, não deixo de reconhecer que o PCP
tem feito um refrescamento assinalável nos seus quadros, em especial na Assembleia da República .
O PS, na nova versão oportunista e calculista "António Costa", movimenta-se em várias frentes tentando
conseguir a antecipação das eleições legislativas previstas para o período entre 14 de Setembro e 14
de Outubro de 2015 .
Ao mesmo tempo Ferro Rodrigues, o novo lider parlamentar do PS, já se apressou a afirmar que o PSD
e o CDS estão enganados se pensam atrelar o PS .
Ou seja : o Ps manifesta apenas sede do poder - um acordo de regime é importante para permitir o acesso
ao escrutínio eleitoral o mais depressa possível ; um acordo de regime noutras matérias não é premente
pois os problemas estruturais do país podem esperar .
Com esta lamentável visão limitada ao mais mesquinho interesse partidário os portugueses bem podem
esperar sentados pela resolução dos problemas do país .
Durante várias semanas chegou a ser chocante assistir às tentativas de Maria João Rodrigues para ser
proposta como comissária por Portugal na Comissão Juncker .
Tentativas dela e não só - também do Partido Socialista -, fazendo avultar a sua enorme competência e a
colaboração que deu, ao longo dos anos, na definição da política de emprego europeia, no relançamento da
estratégia europeia de crescimento e na melhoria da governação económica europeia .
Sendo verdade indiscutível que ninguém é bom juiz em causa própria, a última tentativa de MJR ( num texto
publicado no Expresso de 9 de Agosto pº pº, com o título de "Escolhas de comissário e de país" ), numa altura
em que era visível o seu desespero ( e mau perder ) por surgir já inabalável a candidatura de Carlos Moedas,
contém críticas que o decurso do tempo revelou insubsistentes .
Referia MJR que, "na melhor das hipóteses", só iria haver 7 mulheres na lista dos 28 comissários da Comissão
Juncker .
Ora a verdade é que se encontram propostas 9, ou seja um número igual ao da Comissão anterior .
E quanto a Carlos Moedas - nome proposto, quando a não referência do nome de MJR a Jean-Claude
Juncker é "o que se chama uma oportunidade perdida" - foi-lhe atribuída a Comissão Investigação,
Inovação e Ciência .
Mas MJR foi ainda mais longe, dizendo que Carlos Moedas deu provas bastantes de capacidade operacional,
mas interrogava-se sobre se isso seria suficiente e que parecia evidente a sua dissonância cm as novas
prioridades de Juncker .
Só que a Comissão do Parlamento Europeu à qual competia apreciar os comissários propostos deu parecer
favorável a Carlos Moedas, parecer esse de todos os grupos parlamentares ( incluindo o grupo socialista )
apenas com a excepção do Grupo da Esquerda Unida ( que integrava delegações do PCP e do BE ) .
E agora, Maria João Rodrigues ?
Depois de uma longa campanha nas primárias do PS fugindo como diabo da cruz de qualquer ideia,
proposta ou sugestão concreta, António Costa, na noite da vitória, manteve intacta essa imagem de marca .
Foi nessas "comemorações" que, entre outras frases - e, lamentavelmente, não teve uma palavra sequer
para António José Seguro, seu camarada de partido ( aquele partido que António Costa afirma pretender
unir ... ), cuja postura na derrota foi de uma grande dignidade -, disse que "este é o primeiro dia de uma
nova maioria de governo . E é o primeiro dia dos últimos dias deste governo" .
Dos últimos dias deste governo - quantos ? noventa ? cento e oitenta ? trezentos e sessenta e cinco ?
O tempo das afirmações sem conteúdo vai esgotar-se rapidamente para António Costa .
A fase cómoda dos sorrisos, dos beijos e dos abraços vai, por muito que ele não o deseje, ter que ser
substituída pelo elencar de propostas concretas e de alternativas que tenha por viáveis às actuais
políticas governativas .
Só que a nova entronização da falecida "corte socrática" ( de tão má memória ! ) não augura nada de
bom nessa matéria ...