As eleições autárquicas - algumas reflexões
As eleições autárquicas realizadas no último domingo de Setembro justificam algumas reflexões :
1ª - a vitória do PS é nítida no que respeita ao número de autarquias que alcançou . Mas os votos
expressos ficaram bem abaixo do pretendido para poder assumir-se como uma alternativa real no
plano nacional ao actual Governo de coligação .
Ou seja : António José Seguro ... segurou-se como líder do partido, mas ainda tem muita "pedra
para partir" antes de surgir com credibilidade nacional como candidato a 1º Ministro ;
2ª - o PSD teve uma derrota profundíssima, derrota resultante de um conjunto de factores :
a) a erosão de um poder que, atenta a "pesada herança" recebida e as erradas prioridades com
frequência assumidas no combate à crise, tinha necessariamente de ser penalizado ;
b) uma campanha conduzida de forma a raiar o péssimo ;
c) algumas escolhas verdadeiramente suicidárias ;
3ª - a CDU foi um dos vencedores da eleição, não apenas recuperando das perdas sofridas em
2009 face aos resultados de 2005 mas melhorando até a performance de há oito anos atrás ;
4ª - o dr. Paulo Portas "embandeirou em arco" com os resultados do CDS-PP, considerando-os
maravilhosos .
Houve, de modo incontroverso, uma melhoria nos resultados do partido, mas muito longe de o
converter numa força política relevante .
Usando uma imagem que utiliza meios de transporte dir-se-á que o CDS-PP era um RICKSHAW
e passou a ser um SUV ... ;
5ª - o BE, embora tenha tentado desviar as atenções dos seus péssimos resultados - mas as
fisionomias dos responsáveis não conseguiam esconder o insucesso -, foi o segundo maior punido
nas eleições : perdeu a única autarquia a que presidia, não conseguiu eleger qualquer vereador
em Lisboa e no Porto e teve uma percentagem baixíssima a nível nacional .
Aliás, se a legislação eleitoral para a Assembleia da República fosse semelhante à de alguns países
europeus evoluidos ( como, por exemplo, a Alemanha ) poderia eventualmente vir a acontecer ao
BE, em próximas eleições legislativas, ficar sem representação parlamentar .
Este retrocesso da "esquerda caviar", contudo, era mais do que previsível : a época actual é de
crise e o caviar é bastante caro ... ;
6ª - por fim ( the last but not the least ) uma palavra em relação às relevantes vitórias de independentes
- embora haja que reconhecer existirem uns mais independentes do que outros ... - que devem ter
preocupado ( e muito ! ) os partidos políticos .
Partidos provavelmente arrependidos das alterações que introduziram na legislação autárquica ,
permitindo candidaturas de cidadãos e movimentos independentes .
E, perante o acontecido, devem ter colocado "trancas na porta", sendo agora muito mais improvável que
venham a permitir a criação de círculos uninominais e candidaturas independentes nas eleições
legislativas .
Ou seja : perspectiva-se ( o que é uma pena ! ) a manutenção do monopólio dos partidos nas eleições
para a Assembleia da República, com o aprofundamento do divórcio da população e o aumento
progressivo da abstenção .