A cultura setubalense ( e não só ) continua a empobrecer
Manuel Medeiros, o Livreiro Velho, o Resendes Ventura do "Papel a Mais" e de outros livros
deixou-nos fisicamente .
Só que o seu legado ímpar na defesa do livro, no incentivo à leitura e na paixão pela difícil
mas indispensável actividade livreira terá seguimento garantido através da Fátima e dos
filhos .
Conheci-o quase há quarenta anos e desde então mantivemos uma ligação intensa e amiga .
Ao Manuel Medeiros devo o incentivo e a ajuda para a minha primeira incursão no mundo
dos autores publicados .
Esse incentivo manteve-se quando "reincidi" e o acompanhamento, amigo e caloroso, nunca
me faltou .
Desta vez a partida do Manuel Medeiros - ao contrário da anunciada em 20 de Junho de 1996
- é, infelizmente, verdadeira .
Em "Dedicação", do livro "Papel a Mais" escreveu Resendes Ventura :
"Papel a Mais" dedico-o a quem me estima .Sei muito bem quem é e ao mesmo tempo estou
em que o não sei nem nunca saberei . Acho que não sou temerário ao supor que a vida, já
agora, não me dará tempo para perder a crença no amor fraternal, que, mesmo que em
corrente oculta, passa entre nós com verdade e força ."
Manuel Medeiros era um multifacetado - além das reflexões profundas e de um sentido critico
forte mas jamais agreste, desenhos de qualidade e versos que apetece reler .
Recordo o poema "Herança" do livro "Mãe d' Alma" :
" O tempo de vencer e ser vencido
o tempo inútil
acabará No resto semeei
olhos de espera
para o sossego tépido da tarde
em frente ao mar das ilhas " .
Foi grande a sementeira deixada pelo Manuel na sua profícua jornada .
Por esta altura já ele deve estar a integrar-se na tertúlia que o Fernando Guerreiro rapidamente
terá criado .
Com este a declamar, com a mestria de sempre, os versos do recém-chegado .
Até ao depois, saudoso e recordado Manuel Medeiros !