A poesia de Miguel Torga mantém uma actualidade impressionante
Na última semana revisitei, por imperativo da participação numa tertúlia de leitura comemorativa
do Dia Mundial do Livro, a poesia de Miguel Torga .
Fi-lo com o prazer e a admiração de sempre .
Como todos sabemos Torga, um eremita misantropo, era um crítico acerbo do regime autoritário
então vigente .
Entre os seus poemas encontramos dois, escritos em 1960 e em 1961, que constituem um feroz
libelo ao Estado Novo .
Só que Torga era um homem de esquerda que pensava pela sua cabeça, de uma honetidade
intelectual sem mácula e não um seguidista acéfalo .
É por isso que estou firmemente convicto de que, se Torga tivesse nascido cinquenta anos mais
tarde, estaria hoje a escrever esses mesmos poemas, sem lhes alterar uma vírgula, embora com
o coração dorido e com lágrimas nos olhos .
São estes os poemas em causa :
REGRESSO
( poema de 13 de Junho de 1960 )
Pátria magra - meu corpo figurado ...
Meu pobre Portugal de pele e osso !
Nada na tua imagem se alterou :
A casca e o caroço
Dum sonho que mirrou ...
COMUNICADO
( poema de 18 de Abril de 1961 )
Na frente ocidental nada de novo .
O povo
Continua a resistir .
Sem ninguém que lhe valha,
Geme e trabalha
Até cair .
Ora digam lá se não acham que estes dois poemas podiam ter sido escritos há dois ou três dias
ou na semana passada ?