BE - A conversão da "esquerda caviar" ao "prato de lentilhas"
Quando da constituição do Bloco de Esquerda, aglutinando, de forma relativamente instável, pensamentos políticos algo diferenciados, a organização posicionou-se no espectro político numa linha de protesto e de contrapoder .
Só que, visando apresentar-se com uma postura não coincidente em absoluto com o PCP, foi procurando criar um tipo de intervenção menos classista ( operária ) e antes mais intelectualizada .
Essa linha de uma esquerda burguesa com um pensamento mais burilado deu lugar, de forma justificada, à atribuição do epíteto de "esquerda caviar" .
Mesmo assim, nesses primeiros anos de existência, o BE mostrou-se fiel à sua matriz de organização de protesto e de contrapoder .
Até que chegou ao poder o derrotado nas eleições legislativas - António Costa, com a sua insofismável capacidade negocial, criou a "geringonça", trazendo, de mansinho e pé ante pé, o BE e o PCP para a antecâmara do poder .
Paciência e gestão não apressada mas progressiva foram dando frutos .
A música ( celestial ao ouvido dos parceiros, embora não sendo eles religiosos ... ) do "encantador de serpentes" foi produzindo efeitos, mais ainda junto do BE do que do PCP, como é visível .
O PCP necessita sempre, por estratégia imutável e pelo seu peso sindical, de estar, ao mesmo tempo, com um pé dentro e outro pé fora .
Já o BE, sem esse paradigma, foi-se progressivamente embriagando com a presença na antecâmara do poder .
Pouco será necessário ao "encantador de serpentes" oferecer ao BE para que este se converta de uma organização de protesto e de contrapoder num parceiro privilegiado na área do poder .
Daí ser expectável que, mais cedo ou mais tarde, vejamos a conversão do BE ( a "esquerda caviar" ) ao "prato de lentilhas" .